Pacientes pós-covid exigem atendimentos especializados

Em Itajaí (SC), o atendimento é realizado em um Centro de Reabilitação especializado em pós-covid-19

Entre os pacientes internados com Covid-19, uma parte necessita de entubação, chegando a ficar entre 10 e 14 dias entubados, respirando por meio de ventilação mecânica. Com a recuperação, e retirada do tubo orotraqueal (extubação), alguns pacientes podem evoluir para um distúrbio da deglutição. Com o quadro estabilizado, ainda no hospital, o fonoaudiólogo entra para realizar a avaliação e intervenção fonoaudiológica, porém nem todos os pacientes têm uma recuperação completa durante o período de internação, necessitando de acompanhamento após a alta hospitalar.

Além das complicações na deglutição, após a alta hospitalar muitos pacientes acometidos pelo vírus ainda permanecem com alterações na comunicação, na qualidade vocal, dificuldades ou incoordenação respiratória e alterações no processo da deglutição, sendo necessário o acompanhamento de diversos profissionais, entre eles o fonoaudiólogo.

Segundo a Fonoaudióloga Talita Todeschini Vieira - CRFa 3/6 10108, que atende paciente pós-covid-19 no hospital e pós alta hospitalar, “isto ocorre principalmente pela fraqueza muscular do paciente pós-covid-19. A sarcopenia (diminuição de massa muscular), que interfere na deglutição, leva o paciente a apresentar disfagia", explica.

Vários estudos sobre as consequências da Covid-19 foram iniciados para acompanhar estes pacientes. O da Universidade de Oxford (Inglaterra) observou que um grande número de pessoas infectadas receberam alta e tiveram sintomas persistentes como falta de ar, fadiga, ansiedade e depressão por pelo menos três meses. No Brasil, estudo similar foi realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que apontou resultados semelhantes. Segundo o estudo da Unicamp mais de 40% dos pacientes se queixaram de fadiga, mais de 30% reclamaram de dor de cabeça, quase 30% falaram que têm problema de memória e mais de 20% que estavam com sonolência excessiva diurna.

As sequelas pós-covid-19 estão cada vez mais sendo observadas e estudadas principalmente a fraqueza muscular e respiratória, fadiga, alterações de sensibilidade - o que está sendo chamado de Síndrome Pós-Covid-19 ou Covid persistente. Importante salientar que não são somente os casos graves que apresentaram este quadro, mas sim casos moderados e leves. Com estes dados a importância da reabilitação é fundamental. Alguns hospitais e Centros de Reabilitação de Universidades já estão oferecendo este atendimento (Centro de Reabilitação do Hospital Einsten, Universidade Veiga de Almeida/RJ, Centro de Reabilitação da PUC/RS, Governo do Pará).

Síndrome pós-Covid-19?

Como está ainda sendo investigada estão considerando como uma complicação em decorrência da infecção do novo coronavírus e está associada a problemas no sistema nervosos central e músculo-esquelético. São sintomas persistentes, podendo durar vários meses após a recuperação da Covid-19. Devido ao cansaço intenso, pode ser bastante incapacitante. Os principais sintomas são:  falta de ar, cansaço, dores musculares, perda de olfato e paladar e distúrbios de ansiedade. Esse conjunto de sintomas ligados às sequelas da covid-19 precisam ser combatidos de forma multidisciplinar – fonoaudiologia, fisioterapia, psicológia, nutrição entre outros.

No Brasil já existem alguns hospitais e universidades que estão fazendo o acompanhamento destes pacientes. Em Santa Catarina, na cidade de Itajaí, por exemplo, foi inaugurado em 14 de dezembro de 2020, o Centro de Reabilitação Pós-Covid-19. Segundo as fonoaudiólogas Karine Wiggers – CRFa 3 7929 e Nayara Duarte CRFa 3-10124, a partir do momento que a prefeitura municipal lançou a ideia, uma equipe do NASF (da qual as duas fonoaudiólogas fazem parte) se reuniu para discutir e organizar o projeto para montar um local que atendesse os pacientes com sequelas pós-covid-19.

O objetivo do centro é atender moradores que ficaram com sequelas respiratórias, motoras ou emocionais em consequência da Covid-19.

As fonoaudiólogas informaram que estudos comprovam que muitos pacientes apresentam sequelas. Estas podem ser observadas imediatamente após a alta hospitalar ou após um tempo da alta. E não são somente os casos mais graves, que necessitaram de internação, que apresentam sequelas, casos em que os sintomas foram leves, podem apresentar alguma sequela após um tempo.

Quais são as sequelas mais comuns?

Segundo a fonoaudióloga, em primeiro lugar vem a fadiga, que interfere na respiração e consequentemente na voz e deglutição. Também são observadas alteração na sensibilidade olfativa e gustativa o que pode interferir nos aspectos da deglutição. Também tem os aspectos emocionais pós-Covid.

Como funciona o atendimento?

Paciente é recepcionado, a partir da entrega do encaminhamento, feito cadastro, em seguida passa pelo acolhimento (escala de revezamento dos profissionais), os casos são discutidos todos os dias em reunião com a equipe, para então direcionar ao profissional devido, conforme a queixa trazida. Sendo assim é agendado avaliação específica, feito contato logo após com o paciente para informar a data.

Como é composta a equipe?

A equipe é formada por 2 fonoaudiólogas; 2 fisioterapeutas, 1 educador físico, 2 psicólogas, 1 TO e 1 nutricionista.

Segundo as fonoaudiólogas o trabalho é gratificante e estão muito felizes com a implantação deste Centro. Com um mês de funcionamento, a demanda ao Centro está sendo intensa, já com alguns casos de sucesso no tratamento.

O Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região, alerta as autoridades de saúde para a importância do acompanhamento destes pacientes. A implantação de mais Centros de Reabilitação como o de Itajaí, será fundamental para este acompanhamento. A neurologista Clarissa Yasuda, coordenadora da pesquisa da Unicamp, informa que os dados sugerem que mesmo pacientes que não precisaram de internação após o diagnóstico da doença causada pelo novo coronavírus terão de passar por reabilitação (https://www.abneuro.org.br/post/sintomas-em-pacientes-leves-de-covid-persistem-em-75-dos-casos-diz-unicamp, https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/07/24/sequelas-em-pacientes-recuperados-de-covid-19-podem-persistir-por-longo-periodo)

 

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